Angola herda colagem incongruente da gestão Biden
A reconfiguração geo-política, militar e económica actual, com novos actores na Ásia, mostra que o mundo mudou e precisa de novas respostas multilaterais que não sejam tão vulneráveis, sujeitas aos caprichos políticos e económicos do Ocidente.
A visita simbólica de Joe Biden a Angola, nos próximos dias, já sem o peso institucional, económico e diplomático dos Estados Unidos da América (EUA), será, para Angola, apenas um marco histórico. É a primeira vez que um Chefe de Estado dos EUA visitará o nosso país.
Ela representará certamente, para o Governo de Angola, um trunfo da diplomacia, mesmo nas circunstâncias de fim de mandato de Biden. Contudo, no contexto internacional actual, Angola vai herdar uma colagem literal às políticas internacionais incongruentes da Administração Biden.
O Presidente americano que cessa funções em Janeiro de 2025 não deixará saudades em relação aos conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente. Ele vai deixar um legado belicista "de dois pesos e duas medidas" pela insistência em fomentar guerras, mortes massivas e destruição. Angola ficará colada a todos estes malefícios da gestão Biden.
Por causa desta postura de Biden, o Ocidente insiste em não aceitar a derrota na Ucrânia e continua a apostar numa alternativa suicida para a Europa. Em fim de mandato, Joe Biden vai embora com um passivo de insucessos no Médio Oriente, incluindo na Síria e no Afeganistão, empurrando os fiéis subservientes da Europa numa fornalha de guerras.
A atitude de Joe Biden de ajudar, incondicionalmente, Israel e a Ucrânia, autorizando esta última a usar armas de longo alcance, possíveis apenas de serem operadas por especialistas da NATO, para atingir território russo é, de facto, uma cartada arriscada. O objectivo é claro: provocar uma resposta irreflectida dos russos que complique ainda mais a situação, particularmente o início da gestão Trump.
Quem conhece a frieza histórica dos russos sabe que eles não agem por impulso. Eles são calculistas e a resposta inteligente à ameaça chegou num ápice: responderam à altura e tiraram da cartola um trunfo, com contundência: o míssil hipersónico Orechnik. Esta acção da Rússia assustou o Ocidente e nada nos diz que, eventualmente, outras não existam.
Depois desta demonstração de poderio militar, no campo de batalha e de resiliência diante das sanções económicas, a Rússia vem mostrando que é uma potência com capacidades extraordinárias de se reinventar, de avançar e ser capaz de ser um actor forte no cenário internacional, envolvendo investimento no arsenal militar e em todo o tipo de recursos materiais e humanos, civis e militares.
Agora, para lavar a face, tudo indica que a coligação anti-russa se lance num ataque suicida, antes da tomada de posse de Trump. A vitória de Donald Trump, agudizada com as complicações da implosão do governo de Olaf Scholz, na Alemanha, aliada à tímida resistência do governo de Emmanuel Macron, estão a provocar um profundo estrago na Europa e a divisão do bloco instigador das guerras.
Esta instituição liderada por um quarteto, integrado por Ursula von der Leyan e Kaja Kallas, duas senhoras belicistas, aliadas a Keir Stramer, primeiro ministro do Reino Unido, e Macron, Presidente da França, insiste em lançar gasolina na fogueira, quando está por demais claro que a Ucrânia já é, à partida, um caso perdido.
As capacidades industriais e militares da Rússia, demonstradas no campo de batalha, põem o mundo em alerta. Se houver um acordo de paz na Ucrânia, com Trump, o mais provável é que lá mais para a frente assistiremos à corrida armamentista.
A reconfiguração geo-política, militar e económica actual, com novos actores na Ásia, mostra que o mundo mudou e precisa de novas respostas multilaterais que não sejam tão vulneráveis, sujeitas aos caprichos políticos e económicos do Ocidente.