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Opinião

Erros sistemáticos

Editorial

Esta coisa de saber que ninguém vai fazer o controlo dos objectivos a que nos propomos, que não existe uma cultura de confrontação entre o que dizemos e escrevemos com o que realmente acontece, atira-nos para uma posição em que se torna cada vez mais difícil resolver os problemas que se vão acumulando no dia a dia do nosso País.

Esta semana comparamos aquilo que foi escrito no Plano Nacional de Endividamento e no OGE 2024 com a respectiva execução. E, tal como aconteceu em anos anteriores, os desvios são de tal ordem, que por vezes fica a sensação que estes documentos não servem mesmo para nada. Ou seja, fazem-se, ninguém respeita ou quer saber, e na verdade a gestão é feita à vista, com o que vai acontecendo, de acordo com o que apetece a cada um dos que tem poder de decisão.

Obviamente que as condições do País são hoje muito difíceis, o que limita a "feitura" de previsões a médio prazo com alguma probabilidade de acerto, mas constantes desvios de 50 ou mais por cento, não é muito normal, convenhamos. Os documentos parecem ser feitos com demasiado empirismo e pouco conhecimento das matérias e da realidade, ou construído mediante aquilo que gostávamos que acontecesse, já com a percepção que não se vai cumprir, mas que a intenção era boa.

Esta coisa de saber que ninguém vai fazer o controlo dos objectivos a que nos propomos, que não existe uma cultura de confrontação entre o que dizemos e escrevemos com o que realmente acontece, atira-nos para uma posição em que se torna cada vez mais difícil resolver os problemas que se vão acumulando no dia a dia do nosso País. Tenho para mim que construir diariamente uma realidade virtual, que objectivamente não existe, leva-nos depois a fazer programas e a tomar medi das que também só resultam nesse mundo virtual. Porque neste, no que vivemos, há muito poucas melhorias.

Não me parece que isto seja alimentado, na maioria dos casos, apenas por conforto ou por desconhecimento, mas fundamentalmente por estratégia. Negar, negar e negar sempre pode levar a que o céu se torne amarelo, que o mar seja cinzento ou que as árvores de repente se tornem todas vermelhas. Pelo menos há quem acredite nisso. Pelo menos até que um tenha a coragem de dizer que o "rei vai nú", tal como acontece na história infantil, e de repente toda a multidão se levante e grite aquilo que realmente vê, "o rei vai nú".

Isto tudo para explicar que temos que ser mais rigorosos, empenhados no que fazemos, ter orgulho no que assinamos, e não ter medo de sermos controlados e julgados pelo que fazemos. E não podemos falhar constantemente nos números e nas datas, e ainda achar que isso é normal. Que apesar de tudo se cumpriram os objectivos, como ouvimos frequentemente os nossos dirigentes dizer. Habituar uma sociedade a que a partir de um certo nível social ou profissional os erros não tem consequência, é estarmos a alimentar a ideia do direito à impunidade para quem chega mais alto. Transformar as "asneiras" num privilégio não me parece nada um bom princípio...

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