O estado vegetativo do ensino superior público
O discurso, politicamente correcto, sobre o estado do ensino superior em Angola, contrasta com o discurso puritano de académicos e mostra quão distantes estão um do outro.
A vida, prática quotidiana, evidencia um conjunto de problemas que sugere um visão mais realista, abertura e bom senso, se quisermos dar o salto tão desejado de um ensino superior que faça parte dos rankings internacionais.
A emergência de saúde pública trazida pela Covid-19 e a crise económica associada produziram efeitos sociais e políticos extremamente difíceis. Porém, mesmo antes do início da pandemia, o ensino superior público já passava dificuldades, vegetando severamente, situação que se agudiza.
Mas, quatro anos depois daquele alentador discurso do Presidente João Lourenço, a situação não melhorou. O que estava mal piorou. A insistência em mudar e corrigir por corrigir, a ausência de um diálogo aberto, franco, realista e sincero, continuam a marcar o cenário.
Um artigo publicado na revista Internacional Transversos, pela professora e pesquisadora da Universidade Agostinho Neto (UAN), Ermelinda Liberato, em 2019, alertava que o ensino superior público cambaleava.
Dizia a pesquisadora que "... os constrangimentos, como a falta de autonomia (administrativa, disciplinar, pedagógica, científica, cultural e financeira), falta de quadros competentes, reconhecimento social e valorização da sua missão e valores eram os vermes que corroíam o ensino superior em Angola".
O estudo, cujo teor recomendo, porque actualíssimo, pode ser revisitado por quem quiser, no endereço electrónico da revista.
A UAN, como universidade mãe, reflecte esse emaranhado de problemas. Há zonas muito críticas, incipiente pesquisa, crescente desmotivação e desmoralização dos docentes, falta destes nos cursos de engenharia ou ausência de laboratórios, para falar apenas destes. A situação é tão crítica que as redes sociais de sectores ligados a ela transformaram-se em palco de lamentações.
Mas, como diz o povo, o caldo entornou por causa da manifestação, recente, do professor Raúl Araújo que mostrou, exactamente, aquilo que todos sabem e reconhecem.
De facto, a resposta, ao pranto do professor da Faculdade de Direito da UAN, veio como se esperava, atroz e arrogante. E mostrou aquilo que, amplamente disseminado, impede uma visão realista e adequada às instituições de ensino superior público. Um olhar que obedece a metas, baseado em projectos claros de desenvolvimento e não de alterações. Esta é a razão da universidade, das pesquisas académicas e científicas.
(Leia o artigo integral na edição 635 do Expansão, de sexta-feira, dia 30 de Julho de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)