O radicalismo da língua e da linguagem
O cenário mostra que precisamos de uma gramática política mais aberta, plural e sem arsenal de extremismos
O nosso contexto político e social tende a abrir brechas para um certo radicalismo, com profundidade, baseado no argumento de uma suposta teoria da conspiração.
Tal tese serve de contraponto para a emergência de um novo léxico que nos permite mesurar o ambiente político actual, encoberto em determinadas intervenções.
Certas narrativas possuem fortuna duvidosa por serem ouvidas e discutidas em contextos sociais de intensa verborragia, principalmente em algumas redes sociais e emissoras de rádio.
Os esplendores de tais enunciados tornam-se uma imensa teia, com múltiplos fios de politicagem, variados eixos de demagogia, enredos e tramas de linguagem, pela amplitude discursiva que estrutura a circunstância e a política.
Os autores de tais narrativas alegam ausência de liberdade e afirmam estar a viver em ditadura, mas ocupam amplos espaços nos media.
Na verdade, isto expressa, por um lado, a força da liberdade de expressão e de pensamento libertário que se está a construir, mas, também, demonstra o quanto temos de nos questionar sobre a consonância entre o radicalismo verbal e a conformação política e social do Estado Democrático e de Direito que tanto conclamam.
Aqueles que se arvoram arautos da verdade absoluta, como activistas ou membros da sociedade civil, também não reconhecem o outro, adoptam um discurso revanchista, rancoroso que não se adequa ao que dizem defender.
Há mesmo um fio bélico, ao estilo de guerrilha, que tende a unir o passado e o presente. Quão interessante é ver como há sempre a ameaça do outro e, por isso, quase se apela ao "extermínio" do outro, procurando amedrontá-lo para impor ideias, regras e vencê-lo pelo medo.
A construção de um país verdadeiramente democrático, capaz de enfrentar as condições adversas, sem temores, é um desafio e não admite ameaças.
O cenário actual mostra que precisamos de traçar novas aprendizagens, principalmente para os menos atentos, que ofereça uma gramática política mais aberta, plural e sem arsenal de extremismos.
E, naturalmente, construir uma cidadania sem um caminho áspero, buscando a recognição, evitando o discurso novelesco, pouco pensado e regulado, sem a astúcia da intolerância repressiva.
Temos de travar o desejo de profanar a política, embrutecê-la e subverter as suas estruturas paradigmáticas que tendem a ser sequestradas pelo uso incontido da língua e da linguagem.