BPI suspende venda das acções do BFA por causa da desvalorização
Apesar do negócio ser em euros, a avaliação dos activos do BFA é feita em Kwanzas, pelo que o valor dos 48,1 % das acções do banco caiu de 414 milhões de euros para cerca de 280 milhões devido à desvalorização da moeda nacional. A venda vai ter que se fazer mas há novos cenários.
O BPI informou por carta enviada aos dois candidatos à compra dos 48,1% do BFA que o processo estava suspenso, devido à desvalorização do Kwanza, uma semana antes do prazo estabelecido para estes formalizarem a proposta final que devia acontecer a 18 de Julho. Os motivos são fáceis de perceber. Apesar de o negócio ser feito em euros, a avaliação de grande parte dos activos é feita em kwanzas, porque estão em Angola, o que significa que o valor das acções caiu drasticamente.
Em termos práticos, a avaliação dos 48,1% do banco que tinha sido feita por 411 milhões de euros, caiu para cerca de 280 milhões. "Para nós seria um excelente negócio, eram menos 130 milhões de euros. Entendo a posição do BPI, se estivesse do lado deles possivelmente faria o mesmo", explica uma fonte ligada ao processo, que também refere que "o processo foi suspenso, não foi anulado. Embora seja necessário dizer que esta era uma porrogativa que tinham e podiam ter acionado". Tal como o Expansão tinha noticiado na sua edição de 2 de Junho, no acordo assinado com Carlos Feijó e o grupo Carrinho, estava comtemplada a possibilidade de em qualquer momento do processo o BPI poder anular o processo de venda das acções.
Estando suspensa, a operação pode ser retomada a qualquer momento, nesta ou noutra modalidade, uma vez que os compradores nacionais também não estão dispostos nestas condições a pagar os valores anteriormente negociados. O Expansão apurou que um valor de 380 milhões de euros seria o máximo até onde iriam as duas propostas. Recorde que anteriormente estariam dispostos a chegar até aos 500 milhões.
Os compradores também sabem que se este processo não for concluído com alguma brevidade, a pressão passa para o lado do BPI. Isto porque se o Governo cumprir com a promessa de vender 15% da participação do Estado no BFA até ao final de Outubro, o BPI torna-se sócio maioritário, o que não vai contra as exigências do Banco Central Europeu, que em caso similares tem dado 30 dias às instituições para vender a participação. Seria depois o BPI a ter que vender sob pressão, o que certamente implicaria um preço mais baixo para instituição europeia.
Nesta altura equacionam-se diversos cenários, sendo que o primeiro passo terá de ser dado pelo BPI. Um dos que poderia acontecer seria o banco europeu tentar entender-se com o outro accionista, leia-se o Estado angolano, vender-lhes a participação sendo que depois seria levado à bolsa não apenas os 15% "prometidos", mas 63% do capital do banco. Para isto acontecer, e de forma informal o BPI já sabe até onde poderiam chegar as propostas de compra dos candidatos, o Estado angolano através da Unitel teria de pagar um valor superior, que poderia rondar os 400 milhões de euros.
Numa altura em que o Tesouro Nacional passa por dificuldades, em que o Estado tem dificuldades de tesouraria, esta possibilidade parece economicamente inviável, ou pelo menos pouco racional. Mas em outros casos isso aconteceu, lembremo-nos do resgaste do capital da Unitel, que no global custou quase 900 milhões USD, também numa acção aparentemente pouco racional do ponto de vista económico, mas considerada estratégica para o Governo.
Há aqui um pormenor que não se deve esquecer quando se analisa este negócio. O BFA é um dos bancos mais rentáveis do País, nos últimos cinco anos gerou lucros que ultrapassaram os 1,9 mil milhões USD, e só em 2021 e 2022 distribuiu lucros de 284,9 milhões USD. Um investimento a rondar os 400 milhões EUR acaba por se pagar a ele próprio, apesar da desvalorização do kwanza, num período de 5/7 anos. Isto partindo do princípio que a instituição mantém uma rentabilidade similar.
Novo processo
Um segundo cenário será o BPI iniciar a curto prazo um novo processo para a venda dos 48,1% do capital do BFA, chamando à mesa de negociações novos interessados, beneficiando do aparecimento de novos compradores para valorizar a sua participação. Isto pode perfeitamente acontecer, porque depois deste processo ter iniciado alguns grupos financeiros procuraram obter informações e terão passado a mensagem que se o negócio não se concretizasse, estariam disponíveis para conversar. O Expansão apurou em conversas informais que dois grupos sediados em Angola que ficaram de fora da operação, estariam agora dispostos a avançar se for aberto um novo processo.
(Leia o artigo integral na edição 733 do Expansão, desta sexta-feira, dia 14 de Julho de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)