"Neste momento há uma consciência da parte dos accionistas que o banco vai precisar de um aumento de capital"
O banco Sol conta com um novo plano de reestruturação e recapitalização que vai até 2027. Os accionistas vão ter de injectar capital e o banco vai vender também imóveis avaliados em 30 mil milhões Kz. CEO avança que a nova política de recuperação de crédito visa incentivar os clientes que se encontram em incumprimento a fazerem o pagamento do crédito com perdão total ou parcial de juros de mora. Crédito malparado é de 51% e o banco diz que está a apostar no controlo interno para combater fragilidades.
Recentemente, a assembleia- -geral de accionistas do banco Sol decidiu avançar com um Plano de Reestruturação e Recapitalização (PRR). O que levou o banco a criar este plano?
O conselho de administração e também a comissão executiva, que eu lidero, iniciámos funções sensivelmente em Maio de 2024 e o nosso exercício de funções coincidiu também com a divulgação dos resultados de uma avaliação que o Banco Nacional de Angola (BNA) fez aos bancos sistémicos, designada como SREP (Processo de Análise e Avaliação pelo Supervisor), que é uma avaliação dedicada para proceder a uma análise rigorosa aos bancos do ponto de vista da sua condição de capital, liquidez, modelo de governos, controlos internos e também o modelo de rentabilidade. E o resultado desta avaliação, no que respeita ao Banco Sol, identificou temas que precisavam de uma abordagem mais cuidadosa e rigorosa da parte da administração do banco, no que respeita, quer ao modelo de rentabilidade, quer a aspectos relacionados ao modelo de governo, fundamentalmente os temas ligados aos controlos internos e gestão do risco de crédito, imparidades e também alguns desafios ao nível do capital e da liquidez.
No fundo, este relatório do BNA surgiu para destapar alguns problemas que existem no banco.
Após receber este relatório, que coincidiu exactamente com o início das nossas funções, nós entendemos, paralelamente a esse exercício, também realizar um diagnóstico ao banco para perceber a real situação financeira, patrimonial e económica. E, feito esse exercício, entendemos que era necessário elaborar um plano de reestruturação e recapitalização, que foi apreciado na assembleia-geral extraordinária dos accionistas, que foi realizada no dia 24 de Janeiro de 2025. O plano foi aprovado por unanimidade por parte dos accionistas, o que revelou, para o nosso bom grado, um comprometimento firme dos nossos accionistas a respeito da viabilidade e continuidade do negócio e da operação.
Mas o que, de facto, prevê este PRR?
O PRR é um verdadeiro plano de transformação do banco, que tem uma componente de reestruturação associada a um plano estratégico e que também comporta uma dimensão de recapitalização. No que respeita à componente de reestruturação, visa precisamente melhorar os nossos capitais próprios, encontrando aqui um cenário que permite aos accionistas aportarem capital para reforçar a condição financeira e patrimonial do banco.
E quais são os pontos que vão merecer uma maior atenção do PRR?
Temos prestado uma atenção muito particular às áreas de crédito, quer ao nível da recuperação de crédito, que hoje se encontra em incumprimento, quer também num controlo mais rigoroso e criterioso ao nível da concessão do novo crédito. Também é a nossa aposta olhar e dedicar atenção aos nossos sistemas de controle interno e de gestão de risco, que hoje é cada vez mais premente e o regulador tem feito muito bem o seu papel em reforçar e exigir cada vez mais dos bancos, fundamentalmente os sistémicos, a necessidade de reforço dos seus sistemas de controle interno e gestão de riscos.
E quanto à estrutura de custos do banco?
Também um tema que nos preocupa muito é olhar para a nossa estrutura de custos e alinhá-la ou dimensioná-la àquilo que é a realidade do nosso negócio, ou seja, a capacidade que nós temos de libertar proveitos para suportar a nossa estrutura de custos e também atender às necessidades dos nossos clientes. E é por isso que dedicamos uma grande iniciativa ao nível do nosso plano de recapitalização e reestruturação, que é olhar para o dimensionamento da nossa rede de negócios, a nossa estrutura física e averiguar se ela efectivamente está ou não alinhada com aquilo que é hoje a dimensão do nosso negócio. Também, ainda sobre o plano, é nossa intenção dedicar e desenvolver competências ao nosso capital humano, o activo mais importante de qualquer organização. E o plano também prevê um plano de formação para os colaboradores do banco, não somente voltado para uma componente técnica, mas também para uma componente do compromisso, da ética, do alinhamento, do atendimento, da cordialidade comercial, aquilo que são cada vez mais as exigências do mercado.
Para que as ideias se cumpram, além da vontade do banco, é necessário dinheiro. Quanto é que os accionistas devem injectar para o que isto tudo que disse venha a efectivar-se?
Importa dizer que, neste momento, a condição financeira do Banco Sol, em termos de capital e de liquidez, permite ao banco continuar a operar normalmente. Obviamente que temos estado a dedicar atenção ao PRR, em função do grau de necessidade que nós temos de constituir imparidades, no fundo, resulta muito da nossa capacidade de cobrança dos créditos que estão em incumprimento ou não. Hoje temos um rácio de cobertura de créditos por imparidades de cerca de 51%.
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