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EXPANSÃO - Página Inicial

Mundo

Foi aberta a Caixa de Pandora do sistema financeiro paralelo do mundo

'Pandora Papers' ainda mais do que os 'Panama Papers'

Milhões de documentos que revelam os negócios de mais de 100 multimilionários, 30 líderes mundiais e cerca de 300 funcionários públicos, de 90 países

Há 11,3 biliões de riqueza do mundo mantida em sistemas offshore, de acordo com um estudo de 2020 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), com sede em Paris, e, agora, o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, no acrónimo inglês), sediado em Washington, abriu a Caixa de Pandora dos offshores do mundo e dá os detalhes.

São milhões e milhões de dólares que estão longe do alcance das autoridades fiscais, credores ou investigadores criminais. A lista do tesouro é vasta que inclui líderes mundiais no activo e centenas de cidadãos em todo o mundo, nomes conhecidos com milhões ocultos.

Ficou a saber que figuras que detém o poder na República Checa, no Quénia ou Equador tem propriedades e dinheiro que tentam manter secretos, e que uma mulher russa adquiriu uma casa fantástica, à beira-mar, no Mónaco depois de ter tido um caso com Vladimir Putin.

Os detalhes espalham-se por mais de 11,9 milhões de registos financeiros obtidos pelo Consórcio de Jornalistas e por uma investigação que tem o nome de Pandora Papers, e que excede em documentos o Panana Papers, divulgado há cinco anos. Na altura, os documentos foram recolhidos num só escritório de advogados, no caso da investigação Pandora Papers os registos abrangem 14 entidades de serviços financeiros espalhadas por diversos países e territórios, como Suíça, Singapura, Chipre, Belize, Dubai, Mónaco, Panamá ou Ilhas Virgens Britânicas.

Os arquivos detalham mais de 29.000 contas offshore - mais do dobro do número identificado nos Panama Papers -, entre os proprietários das contas estão mais de 130 pessoas que a Forbes inclui na lista de multimilionários e cerca de 330 funcionários públicos em mais de 90 países e territórios - também aqui o dobro do número de pessoas a que diziam respeito os Panama Papers.

O sistema financeiro offshore oferece privacidade e é uma oportunidade de ocultar activos de autoridades, credores e outros requerentes, bem como do escrutínio público. Os países que popularizaram este sistema financeiro são, predominantemente, países ou territórios insulares ou costeiros e não são o lugar de residência habitual dos clientes que aí colocam os seus activos. Os que o fazem não estão a cometer qualquer ilegalidade porque usam das leis desses locais que são permissivas a este tipo de práticas.

Os Pandora Papers estão a dar ao mundo a mais abrangente investigação e contabilidade deste universo financeiro paralelo, cujos efectos perversos se fazem sentir de forma avassaladora em países de média e baixa renda, de onde são drenadas somas relevantes aos tesouros nacionais, agravando as disparidades de rendimento e acentuando as desigualdades sociais, além de que os sistemas offsfore penalizam também todos aqueles que cumprem com a lei, ou sejam, pagam impostos sobre os seus rendimentos.

E se a fraude fiscal é suficientemente penalizadora, pode acrescentar-se que é também a partir de contas offshore que é financiado o tráfico de droga, os ataques de ransomware (ciber ataques), o comércio ilegal de armamento e outros crimes.

De Vladimir Putin ao rei Abdullah passando pelo Tony Blair, a lista é infindável e incluiu portugueses e luso-angolanos - à medida que os jornais que fazem parte do consórcio começaram a aprofundar as investigações haverá nomes.

O Expresso, em Portugal, a BBC e o The Guardian, no Reino Unido, o Le Monde, em França, e o Washington Post, nos Estados Unidos, são alguns dos jornais que fazem parte do projecto que envolve 600 jornalistas e que darão nomes, histórias e valores nos próximos dias. Há nove angolanos e luso-angolanos referenciados.

A grande maioria dos documentos estão datadas entre 1996 e 2020, mas há documentos relativos à década de 1970.

Entre os líderes africanos envolvidos nos Pandora Papers está Patrick Acho, o primeiro-ministro da Costa do Marfim, e eventual sucessor do Presidente Alassane Quattara. Em 1998, Achi tornou-se proprietário de uma empresa sediada nas Bahamas, a Allstar Consultancy Services Ltd. E também Uhuru Kenyatta, Presidente do Quénia, eleito em 2013 e reeleito em 2017. Kenyatta está ligado a uma fundação do Panamá, e a mãe e irmãos criaram pelo menos seis empresas offshore e fundações para administrar seus activos, sendo que a maioria das empresas da família foi criada antes de Kenyatta se tornar presidente.

O primeiro-ministro checo, Andrej Babis, candidato nas eleições que decorrem esta semana, terá usado uma empresa offshore para comprar um castelo no sul de França por 22 milhões de dólares.

O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, eleito em 2019 com a promessa de limpar a economia do país, notoriamente corrupta e refém dos oligarcas, terá transferido, durante a campanha para a presidência, o valor da venda de 25% de uma empresa sua a um amigo, que agora é um dos seus principais conselheiros, para uma sociedade offshore.

O Presidente russo, Vladimir Putin, é detentor de uma fortuna secreta, aparentemente, o seu nome não constam dos documentos investigados, mas dos seus vários amigos, sim, e uma mulher com que se terá relacionado e que actualmente é detentora de uma enorme fortuna e de uma casa à beira-mar no Mónaco.