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Opinião

Livro: o outro alimento da cesta básica

CONVIDADO

O escritor José Luís Mendonça escreve sob o futuro do mercado livreiro e pergunta "quem, tendo reservas financeiras estagnadas, não estará tentado a investir neste mercado promissor?"

A leitura é o indicador mais relevante de um país civilizado. Para atingir esse indicador, o Executivo Angolano reconhece, na Política Nacional do Livro e da Promoção da Leitura, "a imperiosa necessidade de implementação de mecanismos para o fomento da expansão do livro e da leitura, a nível nacional, de forma coordenada." O contexto cultural de escassez de políticas disseminadoras e promotoras do livro e da leitura é agravado pelo contexto global dominado pela hipermídia digital e o seu fruto civilizacional, o Homo Zappiens.

Todo esse conjunto de condicionalismos histórico-culturais e económicos situa o público leitor angolano, num cálculo a priori, e baseado na tiragem média actual de uma obra literária de um autor consagrado, à volta dos 0,0013 % da população (ou seja, apenas 400 cidadãos activamente viciados em leitura).

Angola atravessa, neste início de século, no plano da Cultura, um desafio contra a crise de produção, preço, oferta, distribuição do Livro e a promoção da Leitura, tanto nas instituições mais vocacionadas para esse fim - as escolas - quanto nas comunidades e sectores da vida produtiva e reprodutiva do país.

O Decreto presidencial sobre a Política Nacional do Livro e da Promoção da Leitura determina, na sua estratégia de implementação, que "as áreas competentes do Executivo devem criar as disposições legais e as condições materiais para a concretização do objecto do presente diploma, devendo ser encarada a constituição de um Fundo destinado à promoção do Livro e da Leitura."

Para uma eficaz universalização do acesso ao livro e à leitura, compete ao Ministério da Educação apetrechar as bibliotecas escolares com um acervo de obras literárias em número de 5 ou 10 exemplares por cada título. Os livros individuais devem ser adquiridos pelos pais e encarregados de educação, e subvencionados pelo Estado.

O grande fio condutor de um Plano Nacional do Livro e da Promoção da Leitura para um país como Angola consiste em fazer do livro um alimento verbal da CESTA BÁSICA FAMILIAR (oferta de proximidade do consumidor). Para o efeito, há que distribui-lo pelas lojas de conveniência e outras superfícies comerciais nas zonas suburbanas de todo o país.

Segundo o Plano de Desenvolvimento Nacional (PND) 2018-2022, o ensino primário conta com uma população estudantil que ultrapassa já os 5 milhões de alunos e estão, actualmente, no ensino secundário 1,1 milhões de alunos. O universo de professores que leccionam nos vários sub-sistemas de ensino será de cerca de 300 mil. Calcula-se em 200 mil o número de estudantes nas instituições públicas e privadas do Ensino Superior. Prevê-se a existência de 6.000 docentes do ensino superior.

Estes dados estatísticos são importantes para projectar o número de livros necessários para toda a população docente e estudantil angolana, que constitui o primeiro nível de leitores de um país. A este número há que juntar os grupos de leitores extra-escolares, nas diferentes esferas da vida nacional.

As previsões de obras para atender à demanda de todo esse universo de leitores representam um mercado editorial, numa estimativa por defeito, de 11.860.000.000 Kz, se tivermos em conta um universo acima previsto de 6,3 milhões de alunos e 306 mil docentes em todos os níveis de ensino, ao preço estimado de 1.500 Kz. O cálculo é feito com base em 158 títulos escolhidos, exceptuando os títulos referentes à literatura estrangeira, numa primeira fase.

Estes cálculos permitem projectar, no quadro das estimativas apontadas atrás, um salto do índice 0,0013 % para um índice mínimo de leitores cifrado nos 20% da população (sete milhões de leitores), no final dos próximos 5 anos. Quem, tendo reservas financeiras estagnadas, não estará tentado a investir neste mercado promissor de grande rentabilidade?

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