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Opinião

O dinheiro não pode morrer

EM ANÁLISE

Precisamos de verdade, de transparência nas contas públicas. O país está mais pobre, é real! Há menos petróleo para cada cidadão, é um facto. Precisamos de futuro... e evitar a falácia da retórica versus realidade. É preciso despertar porque.

"O dinheiro não pode morrer" ... parei e fiquei a olhar para aquela mulher que não sabe ler nem escrever beneficiária do Kwenda, e senti o sentido de responsabilidade, senti a vontade de não deixar morrer a oportunidade. O olhar para os filhos, a vontade de futuro. Percebi que ali está ... na vida real, a economia no seu estado mais puro, criar riqueza social. Aquele dinheiro na mão daquela mulher não vai morrer..., porque aquele dinheiro tem por trás um ser humano que com esforço, compromisso, ética e estratégia de investimento não vai deixar o dinheiro morrer.

Como é que os decisores de política económica permitem que o dinheiro esteja a morrer a olhos vistos? Primeiro, o dinheiro morreu com e na guerra, mas agora? Como é que foi possível não saber usar o dinheiro durante os últimos 23 anos para investir e prosperar produtivamente? Como é possível estar a criar divida sem criar investimento produtivo rentável? Como cidadã e contribuinte, exijo respostas.

As ruas tornaram-se o reflexo de um desespero cada vez menos silencioso. Professores, médicos e funcionários públicos, são rostos marcados pela tensão e pela frustração. "O que será de nós?" O gigante, o maior empregador, está com os recursos desajustados entre receitas e despesas, o que, por outras palavras se diz incompetência ou negligência no A, B, C da gestão de caixa. Como é que ficam as promessas, antes firmes como rochas, "o ente publico é uma pessoa de bem!?"

O fluxo circular da renda passou a fluxo circular da dívida, cuja espiral não apenas leva à armadilha da pobreza, pelos fluxos financeiros negativos per capita como também pode, e cada vez mais próximo, levar à armadilha da dívida(1). A economia local e real está fragilizada. As famílias, aquelas dependentes do emprego estatal, apesar da aparente segurança comparativamente aos informais, começam a perceber um futuro incerto..., e a cada desculpa de atrasos nos pagamentos fica o discurso de que responsabilidade não é da gestão interna, é mesmo dos outros, do tal desajuste entre receitas e despesas.

O aumento alarmante da dívida interna e externa tem impactos profundamente negativos na sociedade. À medida que a dívida cresce, o governo vê-se obrigado a destinar uma parcela significativa do orçamento para o pagamento de juros, em detrimento da FBCF interno. Esse cenário resulta em serviços e infraestrutura públicas deterioradas, afectando todos os dias e directamente a qualidade de vida das pessoas.

A dívida externa é um factor crítico que afecta a estabilidade económica e a fragilidade das contas públicas, especialmente em países cuja moeda não é automaticamente convertível, como é o caso de Angola, exigindo um esforço cada dia maior para se ter acesso a fundos internacionais por forma a servir a dívida (2).

Relembro que quando um país possui uma alta dívida externa, ele torna-se vulnerável a flutuações na taxa de câmbio. Uma desvalorização da moeda local pode aumentar exponencialmente o custo da dívida, tornando mais difícil o pagamento de montantes em moeda estrangeira. É deste ciclo vicioso, onde reside o risco e a pressão sobre as contas públicas. As consequências estão à vista: cortes em serviços essenciais e investimentos, afectando negativamente o crescimento económico. Esta armadilha da dívida, a desvalorização para servir dívida, não é nova e está bem estudada... como é que ainda se cometem erros?

Além disso, a fragilidade financeira gera desconfiança entre investidores, levando a saídas de capital e à necessidade de recorrer a empréstimos de instituições internacionais, muitas vezes acompanhados de condições rigorosas e leoninas sob o lema check-in, cash out. Essa dinâmica restringe a autonomia económica dos países e repetindo-me: "compromete a sua capacidade de implementar políticas que promovam a estabilidade e o desenvolvimento a longo prazo". Em suma, a relação entre dívida externa, contas públicas e taxa de câmbio é complexa e requer uma gestão cuidadosa para evitar crises. Somos a favor de dívidas produtivas, mas a de Angola está a deixar um rasto do nada... O agigantamento da dívida (pelo seu perfil) está a revelar-se num ciclo destrutivo, onde os efeitos multiplicadores da crise financeira aprofundam as feridas sociais, deixando um legado triste e alarmante para as futuras gerações.

Leia o artigo integral na edição 797 do Expansão, de sexta-feira, dia 11 de Outubro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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