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Pebble Technology Corporation em destaque

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Num segmento nascido há meia dúzia de anos, mas já em forte ebulição com os novos produtos da Apple e da Samsung, uma empresa independente está em destaque, tanto porque acabou de renovar o seu produto único, um smartwatch, como pela forma como voltou ao crowdfunding quando já tem provas dadas no mercado ao longo de dois anos de sucessos de vendas.

Diz o fundador da Pebble que prefere prosseguir com o modelo de financiamento colectivo (crowdfunding) para prosseguir a ligação aos clientes originais. E garante que o sucesso não será ameaçado pela novíssima gama de relógios inteligentes da Apple, nem pela gama recente, mas já vasta, da Samsung.

E isto porque a notoriedade que os 'tubarões' da tecnologia trazem ao segmento irá também beneficiar a até há pouco desconhecida Pebble. Um jovem canadiano a estudar Engenharia em Amesterdão irritou-se de tanto ter de tirar o telemóvel do bolso para ver quem lhe ligava ou enviava mensagens enquanto ele se deslocava de bicicleta pela cidade europeia mais amiga dos ciclistas.

"Li num estudo que a pessoa média pega no telemóvel 120 vezes por dia. Ocorreu-me: e se eu pudesse fazê-lo no meu pulso?" Na história que já repetiu vezes sem conta, Eric Migicovsky explica como a forma- ção em Engenharia o levou a pegar em diverso material informático, incluindo um velho Nokia 3310, e a dar-lhe uma nova vida.

Nascia o precursor do relógio inteligente - smartwatch - da Pebble, porque Migicovski, com 22 anos e pouca vontade de dar 399 USD por uma espécie de smartwatch da Sony Ericsson, se decidiu lançar no seu próprio empreendimento.

Depois de angariar 10,2 milhões USD entre 11 de Abril e 18 de Maio de 2012 através da união de muitas carteiras num financiamento colectivo (crowdfunding, no termo internacional), o projecto do jovem Eric Migicovsky conseguiu, em 2013, colocar nos pulsos de milhares de pessoas um smartwatch desenvolvido longe do espectro dos grandes fabricantes mundiais de tecnologia.

O aspecto de relógio convencional convenceu muitos clientes. E investidores também. Depois do sucesso inicial, a Pebble voltou ao mercado há alguns meses para nova ronda de crowdfunding.

Recebendo uma fatia do negócio em troco da dação de um cheque para investimento - forma mais popular que científica de explicar o financiamento colectivo, que tanto pode ser dirigido a uma empresa em início de vida como a movimentos culturais ou de angariação de receitas para ajuda a comunidades, designadamente vítimas de fenómenos naturais ou doenças endémicas -, os crowdfunders abriram caminho ao fabrico e lançamento do novíssimo Pebble Time, relógio inteligente a lançar ainda neste semestre.

Com ele, a Pebble tornou-se na empresa que mais dinheiro amealhou, desde sempre, no crowdfunding da famosa plataforma americana Kickstarter (considerada pela Time como uma das melhores invenções de 2010).

Ainda falta uma semana para o final da mais recente campanha lançada pela Pebble, mas aos cofres já chegaram mais 17 milhões USD para investimento - valor a roçar o ridículo quando sabemos que a empresa de Migicovski se bate no topo do ranking de vendas com os gigantes mundiais Apple e Samsung.

Aos que questionam por que a empresa segunda classificada no ranking de smartwatches no ano passado - logo após a Samsung, numa altura em que o aparelho da Apple ainda não estava no mercado - ainda anda nestes meandros do crowdfunding, solução típica de empresas que o mercado de capitais e a banca não conhecem nem confiam o suficiente, a Pebble diz, na sua página da campanha lançada na Kickstarter: "Foi aqui que tudo começou. Há três anos, vocês apoiaram a nossa visão de fazer o realmente primeiro smartwatch do mundo. A comunidade Kickstarter e os nossos utilizadores iniciais acreditaram em nós antes de quaisquer outros, ainda nem nós existíamos."

Uma das vantagens para estes financiadores é que serão dos primeiros a experimentar o novo Pebble Time, no qual, entre as novidades face aos anteriores modelos, está o visor a cores e o microfone, ao passo que mantém as 'duas caras', isto é, a capacidade de se emparelhar com as aplicações dos sistemas Android e iOS (neste caso, para já, a ligação ao Gmail).

Mas o melhor de tudo - opinião da empresa - é a timeline (daí o nome Time para o novo Pebble), ou cronograma, que apresenta notificações, lembretes, até notícias e eventos, tudo à medida que vai ocorrendo ao longo do dia.

O mais barato dos novos Time custará o mesmo que o mais caro da anterior geração, 199 USD, enquanto o Time Steel ficará acima dos 250 USD. Para adquirir este smartwatch, das duas, uma: ou recorre à plataforma Kickstarter, ou espera para ver que empresas aderem como distribuidores.

Nos EUA, a cadeia BestBuy foi logo das primeiras a aderir ao Pebble, no início da carreira deste, levando-o também à China e Brasil. Se passar por aquelas bandas… O engenho da juventude Eric Migicovski não tem a popularidade nem a conta bancária de Nicholas Woodman, mas tal como o criador das câmaras GoPro, também Migicovski, igualmente ainda a caminho dos 30 anos de idade, conseguiu fazer de uma necessidade um negócio florescente.

Woodman queria algo que lhe permitisse filmar as suas proezas numa prancha de surf. Migicovski não queria ter de pegar no telemóvel de cada vez que este apitava, enquanto o jovem engenheiro rodava de bicicleta em Amesterdão.

O lançamento do Pebble no mercado ocorreu numa altura em que a Samsung ainda não fazia parte deste jogo, a Apple muito menos (só há dias Tim Cook fez a apresentação oficial) e a Google ainda não tinha lançado o sistema operativo para relógios inteligentes, o Android Wear. Entrevistado pela revista Business Insider no final do ano passado, Migicovski alinha pelo diapasão do custo, dizendo que não pretende um computador rectangular que se encaixe sobre o pulso, mas, sim, um relógio inteligente com preço que, tal como os reló- gios convencionais, permita às pessoas terem vários e mudar consoante os seus humores, ou o estilo de roupa que vestem naquele dia.

Quando vemos a marca Pebble entre os 'tubarões' da indústria, mas ausente dos canais de comunicação convencionais - sobretudo, a publicidade nos media tradicionais, ao contrário de uma Samsung, por exemplo -, e com uns 'míseros' 17 milhões USD de capital angariado por crowdfunding, a curiosidade obriga-nos a visitar os passos passados. E nem é necessário convidar o leitor a socorrer-se de um café para suportar a longa viagem, já que esta começou no mercado há apenas dois anos.

Depois do original, em 2013, surgiu em Fevereiro de 2014 a actualização, Pebble Steel, baixando o preço em 50 USD (para a casa dos 200) e juntando a monitorização cardíaca, ausência notada e criticada no original - aquando da actualização de software, o fundador da companhia lembrou que, ao oferecer mais esta funcionalidade, sem que seja necessário ter o telemóvel emparelhado e perto do relógio, a empresa consegue substituir toda uma gama de bandas de monitorização cardíaca para desportistas.

Logo com o modelo original e pioneiro da marca, simplesmente designado Pebble Watch, já era possível nadar e tomar banho com ele no pulso, descarregar aplicações e, numa abrangência quase imbatível, compatibilizar-se tanto com os seguidores iOS da Apple como com os do Android da Google e suas respectivas aplicações (apps).

No início de 2014, a criação de uma app store (loja de aplicações) própria da Pebble permitiu convergir nela o que iOS e Android ofereciam, além de outras soluções exclusivas. Também por esta altura, o Pebble Watch foi renovado e oferecido com caixa de plástico, ou a metálica do Steel (o nome deste é como o algodão, não engana).

No fundo, preço à parte, e tal como a nova geração (aquela que vimos há dias) também permite, a Pebble tanto apontava a quem prefere uma espécie de Casio em formato smart (até os quatro botões nas laterais, comandos para as funções do smartwatch, nos remetem para a memória dos produtos icónicos da marca fundada pelo japonês Tadao Kashio há 70 anos), como a quem quer um relógio que faça pendant com o fato e gravata. Nesta nova geração que em breve estará à venda, designada Time, o relógio de entrada de gama poderá ser adquirido em branco, vermelho ou preto.

Já o Time Steel, mais exclusivista, virá em prateado, dourado ou tom de alumínio.

Relógio inteligente. Como?

A moda é recente. Ter um relógio que, entre várias outras coisas, também dá horas.

A novidade, claro, não está na revelação da hora certa. Se olharmos para os Pebble Watch e Steel - à espera de serem rendidos pela nova geração -, os botões ou um abanão com o pulso permitem acordar para o nosso quotidiano coisas que vão para lá das horas, do calendário, de um cronómetro ou de ligar a luz do ecrã - com o tal gesto de abanão do pulso o visor ilumina-se… engenhoso.

Nestes relógios inteligentes temos as aplicações, que, no caso do Pebble, permitem funcionalidades que vão do comando de televisões e de câmaras como as GoPro, a calendários com agenda, acompanhamento no fitness, corrida e ciclismo, seguimento de resultados através do canal desportivo internacional ESPN e até ajudar a passar o tempo morto enquanto jogamos alguns jogos simples.

Para lá disto, há, como se exige a um relógio que se designa de inteligente nesta era tecnológica, a possibilidade de ver SMS, usar o Messenger do Facebook e as mensagens directas do Twitter.

Caso não se oiça o telemóvel tocar, os relógios da Pebble trepidam-nos no pulso. E até podemos ser acordados via relógio pelo alarme que ajustámos no telemóvel. Entre as vantagens apontadas pelo presidente da empresa para os seus produtos, em detrimento de outros como os da Apple e da Samsung, está a duração da bateria, a qual, estando a anos-luz da de um convencional relógio a pilhas, leva vantagem face à generalidade dos smartwatches, chegando a durar o dobro.

A isto não tem sido alheia a falta de alguns elementos 'devoradores' de bateria, incluindo ecrãs evoluídos (o novo já vai para lá do preto e branco) e um microfone (para comandos de voz, por exemplo) que a nova geração também tem.

Há semanas, enquanto se aguardava a nova geração da Pebble, havia interrogações sobre a possibilidade de a marca subir um escalão tecnológico, para os campos do GPS, Wi-Fi, barómetro, ou até serviço de telefone por 3G, algo que a Samsung e a Apple oferecem. Mas o fundador da Pebble não quer inflacionar o preço dos seus relógios.

Pelo que não se pode abusar na inteligência emprestada a estes, já que, como diz Eric Migicovski, as pessoas só têm dois pulsos e nem toda a gente quer inteligência a custo elevado. Ora, a confirmar-se a sua previsão de conquista de centenas (milhares?) de milhões de clientes pelo mundo fora dentro de cinco anos, com os smartwatches e outros dispositivos inteligentes utilizáveis (wearables) a terem a mesma penetração que os smartphones, não parece que alguma empresa fique sem pulsos disponíveis para conquistar.

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