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"Na cabeça dos nossos empresários existe uma imagem que o filme não vende"

NGOUABI SILVA - CINEASTA

Ngouabi Silva regressa com uma saga de 5 filmes, num contexto novo, Filhos do Sol, que já tem o primeiro filme gravado e prestes a sair. O cineasta fala da sua trajectória no mundo da sétima arte, da qualidade da produção nacional e do "novo ciclo" do cinema.

Como é que entrou para o cinema?

Eu sou de uma família de artistas. O meu tio pintava quadros e o meu pai não sabia sequer desenhar. Em contrapartida, os filhos deste meu tio nunca desenharam tal como o meu pai, mas eu e os meus irmãos desenhamos.

Digamos que foi uma inversão dos genes

Assim mesmo! Entro na arte também por causa do meu irmão, Lito Silva, que é um cartonista da mesma vaga do Sérgio Piçarra, ambos trabalhavam no Jornal de Angola. Fui igualmente um dos alunos da terceira vaga de desenhadores de Henriques Abranches, que é considerado o pai da banda desenhada em angolana.

Mas isso ainda não explica a sua entrada no cinema.

Então, comecei no meu primeiro emprego aos 17 anos, como argumentista numa revista chamada Parada dos Kandengues, que era da agência Imagem VIP. Na altura tinha de entregar sete histórias por mês. Era duro, mas com o tempo fui-me acostumando, até porque já ganhava 100 dólares é era muito dinheiro. Mais tarde a própria agência evoluiu para um departamento de audiovisual, comecei a trabalhar neste departamento e fui-me especializar em Moçambique, Namíbia e na África do Sul, em vídeos para cinema e documentários e fiquei como director criativo da agência. E depois apareceu-me a oportunidade de trabalhar para TV Globo, no escritório de Angola, como editor. Mas antes já fazia campanhas para rádio e televisão, cheguei mesmo a ganhar um prémio de melhor criativo de Angola em 2002.

Ou seja, estava confortável e preparado para entrar no Cinema.

Exactamente. Sentia-me estrela! Na TV Globo, fazia o programa Revista África, apresentado na altura por Lesliana Pereira e Érica Chissapa, foi aí que conheci as duas. Fiquei por lá durante 4 anos. Saí a convite do BCI (Banco de comercio e Indústria) para trabalhar na direcção do marketing, onde exercia a função de técnico para as campanhas do banco, que era terceirizada, mas controlava a qualidade. Eu trabalhava para instituições, mas o bichinho estava incubado dentro de mim.

E quando é que ele se solta definitivamente?

Em 2016, enquanto trabalhava no BCI. Na altura, eu e o meu irmão, Lito Silva, participámos num festival da CPLP para adaptação de obras literárias em filmes. Ele tinha um livro "O Calvário de Joceline", adaptou o texto e estávamos à procura de um realizador, que iria trabalhar comigo, porque na altura eu já tinha experiência em produção de vídeo. Fui ter com um amigo, o Dorivaldo Fernandes, só que houve um choque de agendas porque ele tinham muitas coisas em curso. Decidi assumir a produção. Foi estranho, mas bom e desafiante.

Foi uma longa-metragem ou uma curta?

Foi uma longa-metragem. Na altura, fomos para Portugal fazer uma especialização, com a CPLP, para afinarmos o projecto. Voltámos, tirámos o filme, mas não gostei muito do resultado. O meu irmão tinha outra percepção, era o filme dele. Senti que não tinha havido um casamento de ideias entre nós. Não me impus criativamente, tinha de respeitar o outro dono do projecto.

E quando é que decide abraçar uma aventura sozinho?

Em 2018, enviei uma carta ao conselho de administração do BCI a pedir financiamento para o filme "Chaduka", um filme que já estava escrito em 2012, mas não saiu porque priorizei "O Calvário de Joceline". Na altura, o BCI financiou o filme com 11 milhões Kz. Reuni a equipa, afinei o guião e produzimos. Quando saiu, em 2018, foi uma autêntica rocha [fiasco]. Mas mais tarde, quando passou pela TPA [Televisão Pública de Angola], o filme ganhou poder. Foi através das exibições na TPA que o filme teve visibilidade e nos trouxe o prémio Moda Luanda em 2019.

Depois do Filme Chaduka a pandemia aparece, o que andou a fazer naquele período?

O mundo estava fechado. Esperámos que os medos e a situação abrandasse. Quando começámos a habituar-nos à situação, decidi: já que não podia fazer longas-metragens, pus-me a fazer três curtas-metragens em 2020. A primeira curta foi uma história de família (para todas as idades) O Plano do Rei, foi a minha estreia em curtas. Mais tarde, no mesmo ano, produzo A Testemunha, que ganhou um prémio no Brasil e ainda em 2020, Message in a bottle, que é um filme de ficção científica. Foram três histórias totalmente diferenciadas. A ideia era mostrar a minha personalidade multifacetada para escrita cinematográfica.

Quais foram as particularidades destas curta-metragem?

O Plano do Rei trata-se de uma história de um avô que conta uma história para os netos, só que ao invés de ser à volta de uma fogueira é enquanto jogam PlayStation.

Leia o artigo integral na edição 794 do Expansão, de sexta-feira, dia 20 de Setembro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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