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África, a maior vítima do aquecimento global

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O aquecimento no continente africano está mais rápido do que se previa, e muita da pressão das mudanças climáticas está colocada nos países com inúmeros problemas sociais e económicos. Cientistas e especialistas em temas de segurança alertam há anos para o risco do aquecimento climático gerar instabilidade e conflitos.

A temperatura em África é actualmente meio grau centígrado superior à que se verificava há 100 anos, o que gera uma maior pressão sobre os recursos hídricos. Nas previsões dos cientistas, em muitas partes do território africano o aumento de temperatura será o dobro do da média global, gerando diversas catástrofes climáticas.

E um novo recorde de calor foi atingido no decurso do primeiro trimestre deste ano. Segundo revelou a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional norte-americana (NOAA), o mês de Março passado foi o mais quente desde 1880, ano em que aquela agência realizou as suas primeiras medições. Com uma temperatura média de 13,6 °C, o mês de Março ultrapassou em 1,5 °C o recorde estabelecido em 2010. Foi no Leste e Sul do continente que foram registadas as mais altas temperaturas.

A África do Sul teve uma temperatura média superior em 2 graus à de Março de 2014, com uma máxima de 42 °C no Cabo. Em Luanda, a temperatura média foi de 34 °C, superior em 4 graus à de Março de 2014. Para o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o aquecimento no continente está a ocorrer num ritmo mais rápido do que seria de esperar. Mesmo se os esforços internacionais forem suficientes para manter o aquecimento global abaixo dos 2 °C neste século, a adaptação climática teria um alto custo para África, que pode chegar aos 50 mil milhões USD até ao ano de 2050, um nível além da capacidade do continente.

Embora África produza menor quantidade de dióxido de carbono do que qualquer outra região do mundo, é considerada a mais vulnerável a secas, inundações e a outras intempéries, e os cientistas sustentam que vão aumentar com o aquecimento do planeta. Além de poder causar declínio na produção de alimentos e aumentar o nível do mar, a mudança no clima também vai incentivar mais guerra em África. Pelas projecções do PNUMA, a temperatura média de África pode subir mais do que 2 °C nas últimas duas décadas do século, e existe até a possibilidade de alcançar entre 3 °C e 6 °C até ao fim do século.

Os impactos para a produção agrícola, para a segurança alimentar, para a disponibilidade de água e para a saúde humana seriam severos. Caso a temperatura média suba 4 °C, o nível do mar pode aumentar mais rápido do que o esperado, causando cheias em Moçambique, Tanzânia, Camarões, Egipto, Senegal e Marrocos.

O mapa de África já está a sofrer várias alterações, como confirmam as imagens de satélite. O principal responsável é o aquecimento global, embora a acção directa do Homem também tenha reflexos evidentes na geografia africana.

Num continente que contribui apenas com 4% das emissões globais de dióxido de carbono, as neves do monte Kilimanjaro estão a desaparecer, o lago Chade está quase seco e os glaciares das montanhas Rwenzori, no Uganda, diminuíram 50% nas últimas décadas. Todos os anos desaparecem quatro milhões de hectares de florestas em África. Os terrenos aráveis sofrem com a erosão e os danos químicos, sendo que 65% desses terrenos estão degradados.

Oportunidade para a inovação tecnológica

Os cientistas não têm dúvidas: todos os países serão afectados pelas alterações climáticas. Mas há uns mais vulneráveis que outros, e todos os anos saem listas de países que precisam urgentemente de ajuda para combater este fenómeno que, até 2100, provocará vagas de destruição e migração de populações. Baseado na história recente de conflitos e temperatura, um estudo feito por pesquisadores nos Estados Unidos indica que em 2030 a incidência de conflito em África subsariana será 54% maior, resultando num número adicional de 393 mil mortes em combate.

Sudão e Etiópia, assim como os países que cercam o lago Vitória na África Central e o canto sudeste do continente, onde se encontram parte da África do Sul, Moçambique e Zimbabué, deverão ter estações mais secas, com a redução de colheitas, enquanto as enchentes ocorrerão perto dos lagos. Estas são as principais conclusões de um estudo que, pela primeira vez, identificou três regiões africanas que deverão preparar-se para enfrentar problemas múltiplos em 20 anos.

Segundo cientistas alemães, elas encontram-se no nordeste, centro e sudeste do continente. Há no entanto uma boa notícia: grandes países como a Nigéria e a região do Congo deverão ser muito menos impactados. O aquecimento é com certeza uma questão global, mas os efeitos têm ampla variação no tempo e no espaço.

As medidas de adaptação podem incluir melhor acesso aos mercados agrícolas internacionais para vender gado antes de secas, sistemas de seguros para a variabilidade crescente das colheitas ou armazenamento de água em sistemas de cisternas.

De facto, a mudança climática é uma realidade pessimista, contudo pode ser uma oportunidade para procurar novas formas de geração de energia como a eólica, a fotovoltaica e as pequenas hidreléctricas. Além disso, as medidas de adaptação e mitigação podem impulsionar a inovação tecnológica na produção agrícola africana, como o uso da irrigação e de fertilizantes, diminuindo o impacto do aquecimento global na economia desses países, mas para isso é necessário consciencialização política doméstica e internacional.

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