A independência não trouxe liberdade económica
É imperioso que a governação entenda que no actual contexto não é mais possível limitar o acesso a oportunidades económicas. A liberdade económica não é apenas desejável, ela é politicamente necessária.
Angola celebrou nesta semana 49 anos desde que ascendeu à sua independência. Apesar de ser um momento de festa, não podemos deixa de aproveitar a ocasião para reflectirmos sobre os principais desafios que fazem com que o bem-estar de cada angolano, almejado no longínquo ano de 1975, esteja ainda adiado.
A evidência empírica, consultando por exemplo os trabalhos de Bender ou Bhagavan, mostra que um ano após a independência saíram de Angola cerca de 300.000 pessoas (entre colonos e não só) não apenas devido à instabilidade político-militar vigente na altura, mas também receando uma espécie de retaliação em função das atrocidades cometidas durante o período colonial. Porém, pouco se fala das consequências da saída brusca destas pessoas no que ao desempenho da economia diz respeito. Dados por nós compilados apontam que a economia angolana como um todo, e muito particularmente a economia fora dos recursos minerais (petróleo e diamantes), entrou em colapso.
Uma outra análise que se pode fazer desta situação tem a ver com o que almejavam todos aqueles que participaram na luta pela independência, i.e., liberdade de poder usufruir das riquezas de Angola. O facto de a saída dessas 300.000 pessoas ter levado ao colapso da economia mostra que as oportunidades económicas na altura eram limitadas, i.e., a economia estava concentrada num número muito reduzido de indivíduos. A intervenção do Estado, que se seguiu após 1975, num contexto de economia centralizada e partido único fez com que as oportunidades económicas ficassem agora concentradas no Estado, deixando para os privados pequenas actividades comerciais sem grande expressão.
Às reformas económicas intentadas nos finais dos anos 80 seguiram-se reformas políticas que levaram ao início de uma democracia multipartidária no princípio dos anos 90. Esta situação fez com que a governação, na ânsia de chamar para si o controle económico do país, permitisse o surgimento de uma classe empresarial privada com fortes ligações a importantes figuras do aparelho do Estado. Nesta senda, a liberdade, no caso económica, continuou adiada uma vez que apenas tiveram acesso a oportunidade de acumular riqueza aqueles que eram identificados como muito próximos de certos segmentos da governação.
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