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Opinião

Compreender a Angola de amanhã... hoje: estado, nação e disposição de espírito em Angola

LABORATÓRIO ECONÓMICO

A pobreza e a desigualdade acentuada na distribuição da riqueza são, na verdade e do ponto de vista social, talvez a maior ofensa que um país independente e com extraordinárias potencialidades de crescimento pode fazer aos seus cidadãos.

Muitas vezes se coloca a preocupação de se saber o número de anos necessário para se alcançar uma situação diferente da vivida num determinado momento. Se bem que em termos económicos e sociais os processos de mudança não sejam lineares, o exercício é, no entanto, válido enquanto forma de se chamar a atenção para os enormes hiatos existentes entre situações presentes e situações desejáveis. Dei comigo a pensar, depois de um dia de trabalho e no regresso a casa, quanto tempo o País vai necessitar para desfrutar duma situação económica e social comparável à de alguns países desenvolvidos, de resto intenção bastas vezes anunciada por quem nos governa. Independentemente de se saber se serão 70 ou 100 anos, o que, na verdade, se verifica é a existência de um conjunto de condições que pode dificultar a sustentabilidade do crescimento económico e a reabilitação social das consciências. Desde logo a propensão à destruição. Obviamente que a guerra e a degradação moral e a deturpação das consciências associadas devem ser, seguramente, uma das causas explicativas importantes, muito embora nas zonas que se mantiveram afastadas da guerra tal apetência se tivesse manifestado com igual intensidade.

Mas talvez sejam, sobretudo, dois outros estados de consciência: a sedição perante a situação de pobreza e o complexo de se ser um país rico. A situação de pobreza, as graves desigualdades de rendimento e a corrupção endémica instaladas há bastante tempo tornam praticamente indiscutível uma atitude de revide. A pobreza e a desigualdade acentuada na distribuição da riqueza são, na verdade e do ponto de vista social, talvez a maior ofensa que um país independente e com extraordinárias potencialidades de crescimento pode fazer aos seus cidadãos. Como o acto de revidar não pode ser abertamente assumido (democracias, democracias manifestações à parte) o recalcamento psicológico provocado por aquelas situações manifesta-se na forma como são usados os bens e serviços públicos, como as infraestruturas económicas, os equipamentos sociais, a água, a electricidade, etc.

Tem-se instalado, há já muito tempo, uma atitude de lassidão e de relaxamento quando em causa está a utilização daqueles bens, que valida, também e afinal, uma apreciação popular sobre a acção e a postura do Estado. Esta propensão à destruição tem uma tradução concreta numa determinada capacidade de se destruir o existente e o novo, com implicações económicas importantes. A taxa de investimento global para Angola tem de ser corrigida por esta propensão à destruição que se verifica da parte dos utilizadores dos bens e serviços públicos. Na maior parte dos casos as infraestruturas são delapidadas (devido à ausência de critério e cuidado na sua utilização) bem antes de terem sido reembolsados os respectivos empréstimos. Passa, assim, a existir uma espécie de dívida residual sem património correspondente. Então, a avaliação económica dos empreendimentos públicos tem de se fazer a uma taxa social de desconto agravada e no mínimo 50% mais elevada à que traduziria uma utilização normal, criteriosa e racional das infraestruturas e equipamentos colectivos. Alternativamente, dever-se-ão reduzir a metade ou menos os períodos de vida útil dos empreendimentos físicos de responsabilidade estatal, o que equivale a duplicar, pelo menos, a taxa de investimento público.

O segundo aspecto é revertível à desorganização e à indisciplina. Em muitos sectores da vida nacional este autêntico estado de sítio está instalado. O trânsito em Luanda é um dos exemplos mais acabados de incumprimento das regras e leis existentes e de desrespeito por cidadãos que no deserto da indisciplina constituem verdadeiros oásis. A desorganização e a indisciplina são já um perfeito estado de espírito em Angola, uma predisposição diária dos cidadãos, afinal e também, uma adaptação reactiva à marginalidade social e ao baixo rendimento económico (em casa onde não há pão todos ralham e se calhar todos têm razão). Ora bem, quando determinados comportamentos se transformam em condições de espírito então só um processo de mudança geracional poderá alterá-las. Mas, do mesmo modo, são imprescindíveis modificações em certas estruturas institucionais como é o Estado, no sentido de evitar o enraizamento de determinadas atitudes avessas ao racionalismo, à autoridade e à disciplina.

(Leia o artigo integral na edição 735 do Expansão, de sexta-feira, dia 28 de Julho de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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