Agronegócio exige acções concretas, sem demagogia!
Em Setembro, lemos nas redes sociais um post de um agricultor nacional que passamos a citar, "Um cidadão ou uma empresa que tem tractor próprio, motobomba Lombardini de 5 Kwa (...), sistema de abastecimento de água, goiabeiras, abacateiros, mangueiras, etc, etc, gasta diariamente para manter vivo o sonho de produzir mais.
Precisa de que tipo de banco ou ajuda? Ou melhor deve comprovar quê? Balanço dos últimos três anos, conta na AGT?" O desabafo deste agricultor torna-se hoje mais pertinente de analisar, particularmente por termos lido, na semana passada, que o ministro da Economia "mandou" os jovens ir para o campo.
Actualmente, como no passado recente, o discurso político teima em identificar o sector agrícola como um sector de base. Nos últimos anos, o País fez investimentos avultados em termos de perímetros irrigados e grandes fazendas sem grandes resultados. A solução agora passa por privatizar algumas dessas infraestruturas. Porém, o que muitas vezes se perde de vista, na ânsia de se retirar o Estado da actividade económica produtiva, é que o acesso ao financiamento continua a ser um dos grandes constrangimentos dos agentes económicos em Angola. De facto, o "Indicador de Clima Económico" do INE mostra que essa situação perdura há mais de 10 anos! Daí a questão, se quem produz não consegue financiamento, mesmo tendo investido recursos próprios, porque razão o senhor ministro sugeriu aos jovens o agronegócio sem antes criar condições?
Das conversas tidas com especialistas, percebemos que os problemas (e possíveis soluções) são bem conhecidos. Afinal, os vários estudos sobre o sector parecem apontar para a necessidade de se criar serviços de extensão agrária, onde os técnicos possam aconselhar os agricultores no campo, ter no País uma indústria que produza os inputs necessários para se aumentar a produtividade, e vias de acesso que liguem os produtores aos principais centros de consumo e transformação. A mecanização desta actividade vai deixar de ser um problema com a inauguração da linha de montagem de tractores na ZEE.
Temos conhecimento que o BAD vai apoiar algumas cooperativas agrícolas e que o Banco Mundial tem um projecto de apoio à agricultura comercial, dois projectos que poderão dar um novo impulso ao sector. Porém, devido à existência de dificuldades na obtenção de títulos de posse de terras, grande parte dos agricultores vai continuar a ter dificuldades no acesso ao crédito. Este é um problema cuja solução está nas mãos do Chefe do Executivo. Sem que haja uma solução credível, os constrangimentos a nível do acesso ao financiamento vão continuar. Se, por um lado, temos um ministro a "mandar os jovens para o campo", por outro o Executivo não concede título de posse de terras, factor que impede o acesso ao financiamento. É importante que os governantes compreendam que sem o aumento da produtividade no sector agrícola, Angola dificilmente poderá ter uma economia de mercado vibrante.
*Docente e investigador da UAN
(Leia o artigo integral na edição 599 do Expansão, de sexta-feira, dia 6 de Novembro de 2020, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)